O homem invisível
A cidade de Embu, onde morei e para onde voltaram todos os meus irmãos e meus pais, sempre foi um ponto de convergência de artistas, pintores, boêmios e outros loucos. Algumas histórias não podem ser contadas, sob pena de arruinar famílias sólidas e -- acreditem! -- deixar muita gente estupefata. Portanto, vou contar o que pode ser contado.
Contado mas não visto. Porque em Embu tinha o homem invisível. Ele era um negro que não falava com ninguém. Andava por todo lado, fazia o que bem entendia e as pessoas se divertiam com aquele comportamento. Às vezes sentava num banco da praça, braços abertos e pernas cruzadas. Ficava ali horas e horas virando a cabeça de um lado para o outro, acompanhando o vai e vem das pessoas. Quando sentia fome, ia até uma das padarias, pegava alguma coisa e saia comendo tranqüilamente. Era invisível.
Forrest Gump tupiniquim, era raro vê-lo parado. Caminhava sempre com um passo ligeiramente acelerado, como se tivesse hora marcada para resolver algo importante. Nos passeios no mato, atrás da Fonte (Água Mineral Embu), lá estava o homem invisível caminhando na direção oposta. Na estradinha de terra da fazenda de um amigo, quilômetros longe do centro: o homem invisível. Comendo pizza no Largo da Matriz e o homem invisível passava quase esbarrando na nossa mesa. Na BR 116, voltando de São Paulo: o homem invisível. Estava por toda parte. Era o homem invisível mais visível de que eu tive notícia.
Certa vez encontrei-o em uma padaria em Copacabana. O proprietário partia pra cima dele, pois tentava sair com um pão sem pagar. O homem invisível se assustou(!): Ué, você tá me vendo? Mas eu sou invisível...! Pedi ao português que o deixasse ir e paguei por ele. E lá se foi o pão que flutuava pela Avenida Nossa Senhora de Copacabana, desaparecendo aos pedaços.
Allan
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